top of page

Feedback e

Aprendizagem

Toda aprendizagem é um processo individual de apropriação e reconstrução de conhecimentos ou habilidades e de sua assimilação às estruturas cognitivas,  modificando-as. Não se trata de incorporar conhecimentos a uma caixa vazia, mas “reconstruí-los a partir de outros já conhecidos, revisando concepções iniciais e refazendo práticas.” (Sanmartí, 2007, p 42). Esse processo ocorre quando o indivíduo age sobre o mundo e interage com os outros. E com a ação e a interação vem o erro, que é o ponto essencial da aprendizagem. No entanto, o ensino tradicional enxerga o erro como algo negativo, que deve ser evitado ou mesmo punido. É preciso considerar o erro como “um indicador dos obstáculos com os quais se defronta o pensamento do aluno ao resolver questões acadêmicas. Nosso desafio é compreender suas causas, porque somente ajudando-os a reconhecê-las será possível corrigi-los.” (Sanmantí, 2007, p. 42)

 

Essa mudança de paradigma não é tarefa simples. A maioria dos estudantes vem de um ensino que não desenvolveu a capacidade de identificação de erros e sua correção, ou seja, da utilização do erro como ferramenta de regulação da aprendizagem. Pelo contrário, promoveu a punição do erro, levando ao desenvolvimento de estratégias dissimuladoras e até mesmo desonestas. O desenvolvimento da competência de auto regulação da aprendizagem, fundamental não apenas na universidade, mas no mundo do trabalho, é, pois, tarefa que se faz presente ao docente.

 

O desenvolvimento dessa competência exige do estudante um monitoramento do seu modo de aprender, bem como uma clareza sobre os objetivos a serem atingidos e a forma como os resultados deverão ser apresentados. É com base nessas informações que o estudante poderá definir estratégias de aprendizagem e gerenciar o tempo e os recursos necessários para atingir  os objetivos. Nesse processo, o feedback é fundamental, pois ajuda o estudante a analisar seus erros, em que ponto se encontra em relação aos objetivos a serem atingidos e o que precisa fazer para alcançá-los.

Saiba mais

The research on formative assessment and feedback is re-interpreted to show how these processes can help students take control of their own learning – i.e. become self-regulated learners. This reformulation is used to identify seven principles of good feedback practice that support self-regulation. A key argument is that students are already assessing their own work and generating their own feedback and that higher education should build on this ability. The research underpinning each feedback principle is presented and some examples of easy-to-implement feedback strategies are briefly described. This shift in focus, whereby students are seen as having a proactive rather than a reactive role in generating and using feedback, has profound implications for the way in which teachers organise assessments and support learning.

No entanto, dar e receber feedback não é tarefa banal. E, como apontam Nicol e Macfarlane-Dick (2005), há uma série de problemas envolvidos. A começar da própria ideia de que o professor deve “dar” feedback, o que coloca o estudante numa posição passiva, de recepção, e não de desenvolvimento da capacidade de auto regulação necessária à aprendizes autônomos. Do lado do estudante, faz-se relevante lembrar que o feedback não é “recebido” e colocado em prática. Pelo contrário, o entendimento da mensagem é complexo e determinado não apenas cognitivamente, mas por todo um sistema de crenças, emoções e percepções de si mesmo. Ademais, colocar o feedback apenas na figura do professor coloca sobre ele uma pressão de trabalho importante, quando se lida com salas grandes e muitas turmas. Daí a necessidade de reexaminar a própria natureza do feedback e quem o dá. Estudos têm mostrado que para que o processo de feedback seja de fato efetivo todos os protagonistas do ensino e aprendizagem devem estar envolvidos, que o entendimento do propósito do feedback deve ser compartilhado por todos e que o feedback precisa ser explicitamente relacionado aos critérios de avaliação (Spiller, 2009). Quanto mais claros os critérios, mais fácil é o processo de dar feedback e mais provável que a mensagem seja assimilada pelo estudante.

 

Nesse sentido, exercícios no qual se propõe aos estudantes que avaliem trabalhos de colegas ou mesmo de turmas anteriores são especialmente úteis, pois levam à compreensão dos critérios de avaliação, compartilhamento desses critérios entre estudantes e docente, identificação de problemas do trabalho avaliado e desenvolvimento da capacidade de dar e receber feedback.

 

Exemplo: O que faz uma resposta de prova ser “boa”?

 

Selecione um conjunto de questões dissertativas de provas anteriores e produza ou copie 3 respostas de diferentes níveis para cada uma. Evite respostas horríveis e aquelas muito fora do padrão. Relacione os objetivos de aprendizagem que estão sendo avaliados e peça que os estudantes avaliem uma das questões primeiramente de forma individual. Em seguida, solicite que avaliem as questões em grupos, focando no que diferencia uma resposta da outra, com o objetivo de identificar o que faz com que uma delas seja uma boa resposta. Peça que escrevam um feedback apropriado para cada resposta e em seguida, que compartilhem com a sala toda o resultado produzido por cada grupo.

 

Traduzido/adaptado de:  http://www.facultyfocus.com/articles/teaching-professor-blog/five-ways-to-improve-exam-review-sessions/

 

Ademais, quando realizado no meio do processo de aprendizagem, propicia o “feed-forward”, ou seja, não apenas a avaliação do que já foi feito, mas desloca o foco para o futuro, para aquilo que ainda precisa ser feito e para as aprendizagens futuras.

 

Pesquisas  (Hattie and Timperley, 2007, apud Spiller, p. 7, 2009) têm mostrado que feedback tem um impacto importante sobre a aprendizagem, mas seu efeito é fortemente relacionado à sua qualidade. A melhora da aprendizagem e dos resultados ocorre quando o estudante recebe um feedback informativo sobre o trabalho realizado, instruções de como melhorá-lo, relacionando-o diretamente com os objetivos de aprendizagem esperados. Feedbacks com elogios, recompensas e que trazem ameaças à autoestima têm, pelo contrário, pouco efeito. 

O modelo de feedback desses autores pode ser sintetizado no seguinte quadro:

Hattie, J. and Timperley, H. (2007). The Power of feedback. Review of Educational Research, 77-87, apud Spiller, p. 10, 2009

Veja a seguir os princípios de um bom feedback:

 

  • Promova diálogo e conversas sobre os objetivos da tarefa a ser avaliada.

  • Enfatize os aspectos instrucionais do feedback e não apenas as dimensões relativas à correção.

  • Lembre de dar feed forward: indicar sobre o que o estudante deve refletir para que seu desempenho chegue mais perto dos objetivos da tarefa.

  • Especifique os objetivos da tarefa e use o feedback para relacionar o desempenho do estudante aos objetivos especificados.

  • Envolva os estudantes em exercícios práticos e diálogo para que entendam os critérios de avaliação.

  • Envolva os estudantes em conversas sobre os propósitos do feedback e do feed forward.

  • Dê feedbacks que convidem à auto avaliação e ao gerenciamento da aprendizagem autônoma.

  • Amplie o número de participantes no processo de feedback, incorporando a auto avaliação e a avaliação por pares. (Spiller, p. 14, 2009).

Pense nisso!

 

  • Quanto feedback você consegue dar das avaliações que você proprõe nas suas disciplinas? Como você poderia incrementar essa ação?
     

  • Ao dar feedback de trabalhos e atividades realizadas pelos estudantes, você o relaciona aos objetivos de aprendizagem propostos pela disciplina?

Últimas curvas... Estamos chegando

No último capítulo, vamos falar de rubricas,
uma ferramenta fundamental para uma avaliação eficaz.

bottom of page